Por Natalya Gardezani Abduch – Médica Veterinária, Mestre em Produção Animal Sustentável.
O desenvolvimento da genética animal na bovinocultura brasileira tem desempenhado um papel fundamental na transformação da pecuária nacional, posicionando o Brasil como um dos maiores produtores e exportadores de carne bovina do mundo. Esse progresso se deve, em grande parte, à introdução dos zebuínos no Brasil Central e à subsequente adoção de tecnologias avançadas de melhoramento genético, que elevaram significativamente a eficiência produtiva dos rebanhos.
A introdução dos zebuínos, como as raças Nelore, Gir, Guzerá e Brahman, foi um marco na bovinocultura brasileira, especialmente nas regiões Centro-Oeste e Norte, onde o clima tropical e as condições de pastagem adversas dificultavam o desenvolvimento de raças europeias. Os zebuínos, adaptados ao calor, à umidade e à presença de parasitas, se mostraram extremamente rústicos e resistentes, servindo como base para a expansão da pecuária nessas áreas. Isso possibilitou o crescimento do rebanho nacional e a consolidação da pecuária como uma das principais atividades econômicas do Brasil.
A evolução da genética animal na bovinocultura brasileira foi impulsionada por diversas biotecnologias que transformaram o processo de reprodução e seleção dos rebanhos, como a Inseminação Artificial (IA), produção de embriões in vivo e in vitro e a clonagem.
O melhoramento genético na bovinocultura brasileira tem se focado em aprimorar características que aumentam a eficiência e a sustentabilidade da produção. Entre os principais avanços, destacam-se:
- Rusticidade: A seleção para adaptação ao ambiente brasileiro resultou em rebanhos mais resistentes a estresses térmicos e parasitários, reduzindo a necessidade de intervenções medicamentosas e resíduos no ambiente, melhorando o bem-estar animal.
- Resistência a Doenças e Parasitas: Através da seleção genética, foram incorporadas características que aumentam a resistência dos animais a doenças tropicais, como a tristeza parasitária bovina e a febre aftosa, resultando em rebanhos mais saudáveis e produtivos.
- Desempenho Superior: Através da seleção para ganho de peso, precocidade e eficiência alimentar, o gado brasileiro tornou-se mais produtivo, com um ciclo de produção mais curto e um menor custo por quilograma de carne produzida.
- Eficiência Alimentar: A melhora na conversão alimentar é um dos focos principais, visando produzir mais carne com menos recursos. Isso contribui para a sustentabilidade da pecuária, reduzindo o impacto ambiental e aumentando a lucratividade dos pecuaristas.
- Qualidade da Carne: Características como maciez, marmoreio e sabor são cada vez mais valorizadas, tanto no mercado interno quanto no externo. O melhoramento genético tem possibilitado a obtenção de carcaças com maior valor agregado, atendendo às exigências dos consumidores mais exigentes.
O sucesso do melhoramento genético na bovinocultura brasileira transformou o país em um importante exportador de genética animal. O desenvolvimento de linhagens de zebuínos com alto valor genético, adaptadas às condições tropicais, despertou o interesse de diversos países da América Latina, África e Ásia, que buscam melhorar a qualidade de seus rebanhos. Esse mercado crescente é impulsionado pela atuação de pecuaristas dedicados e pela formação de profissionais altamente capacitados em instituições brasileiras, que combinam tradição e inovação tecnológica.
A genética animal na bovinocultura brasileira é um exemplo de como a inovação e a ciência podem alavancar a competitividade do setor, contribuindo para o desenvolvimento econômico e social do país. O contínuo investimento em pesquisa e tecnologias de melhoramento genético promete manter o Brasil na vanguarda da produção mundial de carne bovina.
Fonte:
– NEVES, G.V.S.; SOUSA JÚNIOR, J.C.; FURQUIM, M.G.D.; CRUZ, S.J.S. Bovinocultura de corte no Brasil: uma revisão sistemática de literatura. Revista Ibero-Americana de Ciências Ambientais, v. 13, n. 6, p. 277-293, 2022.
– ROSA, A.N.; ABREU, U.P.A.; SILVA, L.O.C.; NOBRE, P.R.C.; GONDO, A. Pecuária de corte no Pantanal brasileiro: realidade e perspectivas futuras de melhoramento. Embrapa, 27 p., 2007.
– OLIVEIRA, J.H.F.; MAGNABOSCO, C.U.; BORGES, A.M.S.M. Nelore: Base Genética e Evolução Seletiva no Brasil. Embrapa Cerrados, 54 p., 2002.