Por Natalya Gardezani Abduch – Médica Veterinária, Mestre em Produção Animal Sustentável.
A Diferença Esperada na Progênie (DEP), é um parâmetro amplamente utilizado na avaliação genética de animais de produção, especialmente em programas de melhoramento genético de bovinos de corte e leite. Trata-se de uma estimativa da diferença média que se espera no desempenho dos descendentes de um animal, quando comparados aos descendentes de outro animal, ambos criados em condições similares.
As DEPs quantificam, por exemplo, o quanto os filhos de um touro podem ser mais pesados ao desmame, ter maior ganho de peso diário, melhor marmoreio de carne ou menor idade à puberdade, em relação à média populacional ou quando o mesmo é acasalado com fêmeas de mérito genético médio.
O cálculo da DEP é feito por meio de modelos estatísticos avançados, que integram diferentes fontes de informação, como:
- Genealogia: pedigree do animal contendo dados dos ascendentes e colaterais do animal;
- Informações fenotípicas: dados produtivos e reprodutivos observados nos próprios animais e/ou seus parentes;
- Informações genômicas: obtidas por meio da genotipagem com marcadores SNPs, que aumentam a acurácia da predição, especialmente em animais jovens que ainda não têm filhos avaliados.
Com a chegada da genômica, surgiram as chamadas DEPs genômicas (gDEP), que incorporam informações moleculares diretamente no modelo de predição, possibilitando avaliações precoces e mais precisas.
Atualmente, o modelo mais utilizado na pecuária é o modelo animal baseado em melhor predição linear não viciada (BLUP – Best Linear Unbiased Prediction), que permite separar os efeitos genéticos dos efeitos ambientais e de manejo.
Os valores de DEP indicam a contribuição genética aditiva de um indivíduo à sua progênie. Por exemplo, uma DEP de +10 kg para peso à desmama significa que, em média, os filhos desse reprodutor pesarão 10 kg a mais na desmama do que os filhos de outro reprodutor de referência, sob as mesmas condições ambientais.
Além disso, a acurácia da DEP é uma medida da confiabilidade dessa estimativa e depende da quantidade e da qualidade dos dados disponíveis. Com o uso de ferramentas de genômica, como a genotipagem por SNPs, a acurácia das DEPs pode ser aumentada significativamente, mesmo para animais jovens e ainda sem progênie.
A utilização das DEPs permite ao produtor selecionar reprodutores e matrizes mais eficientes e superiores, promovendo o progresso genético dentro do rebanho ao longo das gerações. Isso resulta em maior produtividade, redução de custos (por exemplo, menor consumo alimentar por kg de carne produzida), melhor adaptação ao ambiente, melhoria nos índices de qualidade da carne e eficiência reprodutiva.
Além disso, as DEPs podem ser ajustadas por ambiente, sexo, idade e sistema de produção, tornando-as aplicáveis em diferentes contextos de criação.
O uso de DEPs contribui para aumentar a produtividade e a rentabilidade da atividade pecuária, reduzindo o tempo necessário para alcançar os objetivos de melhoramento genético.
Fonte:
– CONNOLLY, S.M.; CROMIE, A.R.; BERRY, D.P. Genetic differences based on a beef terminal index are reflected in future phenotypic performance differences in commercial beef cattle. Animal, v. 10, n. 5, p. 736-745, 2016.
– THRIFT PAS, F.A.; THRIFT, T.A. Expected Versus Realized Progeny Differences for Various Beef Cattle Traits. The Professional Animal Scientist, v. 22, n. 6, p. 413-423, 2006.
– VAN TASSELL, C. P., VAN VLECK, L. D. Multiple-trait Gibbs sampler for animal models: flexible programs for Bayesian and likelihood-based (co)variance estimation. Journal of Animal Science, v. 74, n. 11, p. 2586–2597, 1996.