ESTRESSE TÉRMICO: UM DESAFIO PARA A PECUÁRIA EM CLIMAS TROPICAIS
O aumento das temperaturas globais é uma realidade que impacta diretamente a produção animal. Segundo a Organização Meteorológica Mundial (2019), a temperatura global pode subir entre 3ºC e 5ºC até o final deste século, elevando os desafios para a pecuária, principalmente em regiões de clima tropical. O estresse térmico afeta a fisiologia, imunidade e produtividade dos bovinos, resultando em menor ganho de peso, queda na taxa reprodutiva e prejuízos econômicos.
Os bovinos são animais homeotérmicos, ou seja, possuem mecanismos naturais para manter sua temperatura corporal constante. No entanto, em condições de calor excessivo, esses mecanismos são ativados de forma intensa, redirecionando a energia que seria utilizada para a produção e crescimento para a regulação térmica. Isso resulta em menor consumo de alimento, menor ganho de peso e redução na eficiência produtiva.
Além disso, o estresse térmico pode ser monitorado por meio de parâmetros fisiológicos como frequência respiratória, temperatura retal e temperatura de superfície corporal. Alterações hormonais e nos parâmetros sanguíneos também indicam a resposta do organismo ao calor excessivo.
Nem todos os bovinos respondem ao calor da mesma maneira. Raças zebuínas (Bos taurus indicus), como o Nelore, são mais adaptadas ao calor devido a características como pelagem mais curta, maior capacidade de sudorese, maior eficiência na dissipação do calor e maior termotolerância genética. Por outro lado, raças taurinas (Bos taurus taurus), como o Angus e o Holandês, são mais sensíveis ao calor devido a características como pelagem mais comprida e maior suscetibilidade ao estresse térmico devido a sua origem em climas temperados.
Apesar disso, algumas raças taurinas desenvolvem adaptações para ambientes tropicais. Um exemplo é a Caracu, raça crioula brasileira descendente de bovinos europeus que, ao longo de quatro séculos, adquiriu resistência ao calor por meio da seleção natural.
Para manter a produtividade em regiões quentes, pecuaristas podem adotar estratégias como:
- Melhoria da Genética: Utilização de raças termotolerantes em cruzamentos industriais para explorar a heterose e complementariedade entre raças. E seleção de animais mais resistentes nos programas de reprodução.
- Manejo Ambiental: Fornecimento de sombra natural ou artificial, ventilação e acesso à água fresca.
- Alimentação Adequada: Ajuste da dieta para suprir as necessidades nutricionais sem sobrecarregar o metabolismo dos animais.
- Monitoramento Fisiológico: Avaliação contínua dos sinais de estresse térmico para uma intervenção rápida e eficiente.
O conhecimento sobre termotolerância em bovinos é essencial para garantir a sustentabilidade da pecuária em climas tropicais. A seleção de animais adaptados, o aprimoramento genético e o manejo adequado são soluções fundamentais para minimizar os impactos do estresse térmico e manter a produtividade dos rebanhos.
A adoção dessas estratégias não apenas melhora o bem-estar animal, mas também assegura a viabilidade econômica da pecuária diante das mudanças climáticas.
Fonte:
– ABDUCH, N.G.; PIRES, B.V.; SOUZA, L.L.; VICENTINI, R.R.; ZADRA, L.E.F.; FRAGOMENI, B.O.; SILVA, R.M.O.; BALDI, F.; PAZ, C.C.P.; STAFUZZA, N.B. Effect of Thermal Stress on Thermoregulation, Hematological and Hormonal Characteristics of Caracu Beef Cattle. Animals, v. 12, 3473, 2022.
– REOLON, H.G.; ABDUCH, N.G.; FREITAS, A.C.D.; SILVA, R.M.D.O., FRAGOMENI, B.D.O.; LOURENCO, D.; BALDI, F.; PAZ, C.C.P.D.; STAFUZZA, N.B. Proteomic changes of the bovine blood plasma in response to heat stress in a tropically adapted cattle breed. Frontiers in Genetics, v. 15, 1392670, 2024.
– FREITAS, A.C.; REOLON, H.G.; ABDUCH, N.G.; BALDI, F.; SILVA, R.M.O.; LOURENCO, D.; FRAGOMENI, B.O.; PAZ, C.C.P.; STAFUZZA, N.B. Proteomic identification of potential biomarkers for heat tolerance in Caracu beef cattle using high and low thermotolerant groups. BMC Genomics, v. 25, 1079, 2024.
– ABDELNOUR, S.A.; EL-HACK, M.E.A.; KHAFAGA, A.F.; ARIF, M.; TAHA, A.E.; NORELDIN, A.E. Stress biomarkers and proteomics alteration to thermal stress in ruminants: a review. Journal of Thermal Biology, v. 79, p. 120-134, 2019.